Os Elementos da Música

Os Elementos da Música

            Todo e qualquer fazer historicamente construído pela humanidade possui elementos que o formam.  Podem ser aspectos materiais, conceituais ou simbólicos que quando combinados dão vida a algo novo. Na cozinha, por exemplo, combinamos farinha de trigo, fermento, uma pitada de sal, uma porção de açúcar, uma regada de óleo, misturados a um pouco de água e fazemos um pão. Cada pão é único, dependendo dos ingredientes selecionados, do tempo de levedura, do modo com que se amassa ou se assa o pão, enfim, das escolhas e combinações de quem o faz.  

            Na música, os nossos “ingredientes” ou elementos musicais são: o ritmo, a melodia, o timbre, a intensidade, a harmonia e a forma musical. Assim como um cozinheiro ou padeiro combina seus ingredientes, o compositor também seleciona e combina seus “ingredientes” ou os elementos musicais para criar algo, compor uma nova peça musical.

Um compositor quando escreve a sua obra musical pensa em aspectos como: o instrumento que irá executar a obra (timbre), o tema da música, que comumente chamamos de melodia ou a parte de uma música que conseguimos cantar ou nos lembrar com facilidade. Na melodia aparecerão ritmos diferentes ou a combinação de figuras rítmicas diversificadas (ritmo), notas que irão soar juntas ou não (harmonia), a dinâmica (intensidade) que pode variar de sons fracos aos fortes. E a forma musical, que é a maneira na qual o compositor organiza a música, se ela se repete, se aparece o tema, se há variações, etc.

Observe a partitura de uma obra de Handel para orquestra:

George Friderich Handel. Great Organ Concerti. P. 30-40. Dover Publications: New York, 1983

O ritmo está diretamente ligado ao conceito do som chamado duração. As diferentes figuras musicais representam a duração de um som ou de um silêncio (as pausas).  Assim, na pauta representamos por meio das notas musicais e das pausas quanto tempo um som irá soar ou quanto tempo irá acontecer o silêncio.

A combinação das diferentes durações do som forma o ritmo de uma música. Observe no primeiro compasso da música de Handel. O ritmo é representado pela sequência das figuras rítmicas da colcheia seguidas pela sua respectiva pausa. Há uma sequência de som e silêncio.

A melodia da música é formada por diferentes alturas do som. A altura é a qualidade que nos permite diferenciar os sons agudos e graves. Na escrita musical convencionou-se que a altura é representada pelas notas musicais dó, ré, mi, fá, sol, lá e si. As notas localizam-se na pauta musical, em diferentes lugares tanto na linha quanto no espaço. Aquelas notas registradas nas primeiras linhas do pentagrama (embaixo) representam sons mais graves que as notas escritas nas linhas superiores do pentagrama.

Observe o trecho melódico abaixo: são as mesmas figuras descritas no trecho acima, no entanto, agora as notas são escritas em diferentes posições no pentagrama, isso quer dizer que representam sons de altura diferentes, pois se escritas na parte inferior indicam sons graves e na parte superior são os agudos.

Timbre é o termo que descreve a qualidade de um som. Um violino e uma flauta, ao emitirem a mesma nota musical, produzem timbres diferentes e bem característicos. Conseguimos identificar ao ouvir que cada instrumento musical emite um som com qualidades sonoras próprias. A orquestra é formada por instrumentos musicais que produzem diferentes timbres.

Na música acima, ao lado de cada pentagrama há a indicação do instrumento que irá tocá-lo, em nosso exemplo, violino solo, violoncelo, violino I e II, viola e órgão. Essas indicações referem-se ao timbre.

Uma das propriedades do som é a intensidade que é a qualidade de um som ser emitido de modo mais forte ou fraco. A intensidade diz respeito ao volume do som. Para entender melhor, imagine você ouvindo uma música e ir alterando o volume do som, do baixo até o alto.

Na música, para os sons fracos se usa a palavra piano, representada pela letra “p”, e os sons fortes a letra “f”. A intensidade do som pode variar do ppp (pianíssimo), passando por mf (mezzo forte) até o fff (fortíssimo). Os sons seguem em um crescendo de intensidade podendo ter várias combinações como: ppp, pp, p, mf, f, ff, fff, etc.  

Volte a partitura acima e observe na primeira grade, no terceiro compasso, na parte inferior, lá o compositor coloca a indicação de intensidade, está escrito um p de piano.

O compositor pode variar a intensidade na música pedindo que os instrumentos toquem sons mais fracos ou por exemplo, quando há um diálogo entre a orquestra e depois só um instrumento solista.  

O andamento é o que define a velocidade com que a música será executada. Na música são representadas por palavras, como por exemplo a palavra adagio, localizada em cima do primeiro pentagrama, na partitura acima. O andamento informa ao músico se a música será executada de forma rápida ou devagar. Nesse caso, adágio significa que a orquestra irá tocar em andamento lento.

Harmonia é o resultado de todos os instrumentos tocando ao mesmo tempo. Cada instrumento irá tocar uma nota que deverá soar no conjunto formando a harmonia. Note que o compositor escreve as notas em correspondência de um pentagrama para com os demais. O violinista, por exemplo, sabe qual a nota que deverá tocar quando o violoncelo e a viola estiveram tocando o último tempo do compasso. Todos os músicos tocam as notas indicadas pelo compositor, por meio da partitura, ao mesmo tempo. Esse é um dos trabalhos que músicos que tocam em orquestras ou grupos musicais fazem.

A forma musical é analisada quando ouvimos ou estudamos a obra por completo. Em nosso exemplo, é impossível fazer isso observando apenas os oito compassos iniciais, é necessário ouvir a obra completa.  

Esses elementos musicais receberam, no decorrer da história da música, diferentes tratamentos. Na música dos compositores do período clássico como Mozart, por exemplo, a melodia era muito importante, o ouvinte precisava lembrar da melodia que tinha ouvido anteriormente. Na música erudita do nosso século, a mistura de sons e sonoridades é tão grande que muitas vezes é impossível perceber se há melodias, e isso não é uma preocupação do compositor. No período barroco, Bach usava orquestras essencialmente a base de cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo). Na orquestra do período romântico, compositores como Beethoven, usaram uma gama enorme de timbre, incluindo instrumentos da família dos metais (trompa, trompete, trombone e tuba) e instrumentos de percussão (tímpanos, pratos, etc). Até na música do século XX havia uma preocupação com o equilíbrio dos sons dos instrumentos da orquestra. Não poderíamos ouvir dez tubas e cinco violinos, por exemplo, pois o som das tubas encobriria os cinco violinos.

Hoje, os compositores possuem a liberdade de escolher como querem usar os instrumentos em suas obras. Assim, poderíamos descrever várias modificações que os elementos musicais sofreram ao longo da história da música erudita ocidental, podendo ser aplicada também a música popular, com a sua diversidade de ritmos e gêneros.

Enfim, os elementos musicais, o ritmo, a melodia, o timbre, a intensidade e a harmonia podem ser identificados em toda a nossa música, e por isso são considerados elementos fundamentais no processo de ensino e aprendizagem musical.

Texto baseado no seguinte livro: DECKERT, Marta. Educação Musical: da teoria à prática na sala de aula. São Paulo: Moderna, 2012.

Este livro, dedicado ao trabalho dos professores em sala de aula, traz uma infinidade de sugestões de atividades tendo como conteúdo os elementos da música.

https://theducacional.com.br/categoria/educacao-musical-para-professores/

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