O que é Educação Musical?

O que é Educação Musical?

A Educação Musical é uma área do conhecimento que vem aos poucos sendo conhecida e reconhecida no universo da música e da educação no Brasil, especialmente após a aprovação em 2008 da Lei 11.769 que tornava obrigatório o ensino da música na Educação Básica. Na época, com a demanda por profissionais da área, surgiram muitos cursos de licenciatura em música, materiais didáticos com encaminhamento pedagógico específico para uso na escola, cursos, oficinas, e isso veio a contribuir para a divulgação da área de Educação Musical no Brasil.

No entanto, em 2016 essa lei foi substituída pela Lei 13.278 que torna obrigatório não só o ensino da música, mas também de teatro, dança e artes visuais. Documentos como a Base Nacional Comum Curricular (BNCC) vieram corroborar com essa perspectiva. Assim, a música ou a Educação Musical hoje faz parte do componente curricular Artes, que na melhor das expectativas, integra-se as outras três modalidades de Artes: teatro, dança e artes visuais.

Mas de fato o que é “Educação Musical”?

FRÜHAUF (2019) no artigo “What is Music Pedagogy?” (o que é Pedagogia da Música) nos diz que aprender música é tão antigo quanto fazer música. O homem faz música desde a pré-história e desde então, as civilizações desenvolveram diferentes maneiras de ensinar música. Mas a Educação Musical só se tornou um campo de estudo e pesquisa no século XX.

Segundo SOUZA (2020) o conceito de Educação Musical no Brasil possui dois sentidos: um que diz respeito a ensinar e aprender música e a respectiva didática em diferentes contextos; e outro sentido como sendo a área do conhecimento, com sua história e em constante desenvolvimento.

Assim, a Educação Musical diz respeito aos processos de ensinar música, aprender música e a didática musical envolvida, de modo a tornar o ensino mais eficiente e significativo. Mas, a Educação Musical também é entendida como um campo de conhecimento e pesquisa, uma área da ciência. É interessante o ponto de vista de (SOUZA, 2020) de que a Educação Musical não é a junção da Educação com a Música, mas ela é uma área da ciência independente e autônoma, com seu objeto e pressupostos teóricos próprios.

A Educação Musical na escola

A Educação musical no ensino regular está presente especialmente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental como parte integrante do componente curricular Artes. Algumas escolas, no entanto, optam por ter um momento da semana especialmente para a aula de música ou a musicalização infantil, como é mais conhecida, especiamente na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

MADALOZZO (2021) nos diz que musicalização infantil é um processo de sensibilização sonora, em que a criança atribui significado aos conceitos musicais, por meio de práticas significativas: ouvir, cantar, tocar, criar e etc. Esse processo não se dá de maneira isolada, mas por meio da música a criança constrói relações umas com as outras e com os adultos/professores. Portanto, além da construção dos conceitos musicais, a criança é envolvida num contexto de interação com o outro.

Para FERES (apud JOLY, 2003, p. 116) a palavra musicalização extrapola o sentido de ensinar noção de leitura e escrita musical. Dizer que uma pessoa é musicalizada, observa a autora, significa dizer que ela possui sensibilidade para os fenômenos musicais e sabe expressar-se por meio da música cantando, assobiando ou tocando um instrumento, etc.

Assim sendo, aprender música no sentido de musicalizar é dar possibilidades à criança de ampliar a sua capacidade de percepção, expressão e reflexão do uso da linguagem musical. No processo de musicalizar o desenvolvimento geral da criança é importante. Isso implica em aptidões tais como: capacidade de ouvir com atenção, de integrar-se no grupo, de auto-afirmar-se, de cooperar, de respeitar os colegas e professores, de ser solidário em vez de competitivo, de expressar-se por meio do próprio corpo, de transformar e descobrir formas de expressão, de produzir ideias e ações próprias. (BRITO, 1998).

Quais os conteúdos da Educação Musical?

O objeto de estudo é o som organizado enquanto música, assim como todos os processos envolvidos: cognitivo, social, afetivo, motor, etc.

Os sons apresentam alguns parâmetros: a duração que se caracteriza pela quantidade de tempo que um som permanece, como por exemplo, o quicar de uma bola (duração curta) e o som de um apito (duração longa). A combinação de diferentes durações formam o ritmo na música. A altura define se um som é agudo ou grave. Por exemplo, a voz de uma criança é aguda, a voz de um homem é grave. Na música, a combinação das diferentes alturas (com o ritmo) formam uma melodia. O timbre é o som característico de cada evento sonoro: a voz, o trovão, o latido de um cachorro e etc. Uma orquestra é formada por instrumentos com diferentes timbres. A intensidade é a qualidade sonora do som ser fraco ou forte (o volume de um som).

À primeira vista parece que esses parâmetros do som seriam os “conceitos fundantes” em música. FRANÇA (2013) expõe que, na verdade, eles são a matéria prima da música. Outras formas simbólicas como a linguagem verbal emprega códigos sonoros, mas não estão organizados de maneira musical. Nos diz ainda, que “não são os materiais sonoros que definem por si a música, mas a maneira como eles são combinados” (FRANÇA, 2013, p. 8). Por meio dessa combinação que o compositor faz nascer na música o caráter expressivo, o tema, a frase, os movimentos de uma peça, articulando-se em uma forma musical.

Assim, na sala de aula, o objetivo é trabalhar com a música partindo do todo, daquilo que de fato ela é: música. A partir da música (o todo) propor atividades lúdicas que levem a criança a interagir com a arte musical compreendendo também as suas partes, os parâmetros que a compõe e todo o caráter simbólico que a permeia. Afinal de contas, toda música tem algo a nos dizer, e nos diz isso por meio dos sons.

A Educação Musical para chegar ao que hoje se propõe, como toda ciência, passou por diferentes caminhos e transformações, especialmente no início do século XX em que houve uma atenção voltada para o processo de iniciação musical, surgindo os “métodos ativos de educação musical”. O berço deles foi a Europa, mas com o passar do tempo, chegou a América Latina, e ao Brasil, especialmente por meio de professores que fizeram cursos na Europa e as trouxeram ao país. (BRITO, 2019).

Assim, a educação musical contemporânea está alicençada a partir da contribuição de educadores musicais, da primeira geração, Orff, Dalcroze, Kodály, Williams, Martenot, e da segunda geração como Paynter, Swanwick, Schafer, Aston, Koellreuter entre outros. É importante salientar que essas concepções pedagógicas consideram como ponto fundamental a vivência sensorial, afetiva, corporal e lúdica dos elementos musicais” (FRANÇA, 2013, p. 7). Se antes estudar música era passar horas e horas decorando nome de notas e lendo partituras musicais, agora a música passou a ser ouvida e vivenciada de todas as formas possíveis: movimento, gesto, dança, canto, criação e etc.

A Educação Musical como área de conhecimento e pesquisa

Voltemos ao conceito inicial exposto por SOUZA (2020) a respeito dos campos de atuação da Educação Musical: 1) como processo de ensinar e aprender; 2) e como campo do conhecimento e de pesquisa, uma área da ciência.

Como campo de pesquisa o objeto de interesse da area da Educação Musical é “a relação entre pessoa(s) e música(s)” em diferentes contextos: escolas, igrejas, famílias, espaços de lazer, mídias, aulas particulares, grupos vocais e instrumentais, entre tantos outros (KRAEMER, 2000; SOUZA, 2020). Nesse contexto, a investigação cientifica deve estar voltada para a apropriação e transmissão musical, procurando responder questões como: quem faz música, qual música, como e por que a fazem? (SOUZA, 2020).

No Brasil, professores e pesquisadores de programas de Pós-Graduação em Educação Musical (mestrado e doutorado) tem realizado contribuições importantes a área. Algumas universidades contam com esses programas dentre elas, a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), a Universidade Estadual de Santa Catarina (UDESC), a Universidade Federal do Paraná (UFPR), a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Estadual de Paulista (UNESP), a Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO), a Universidade Federal da Bahia (UFBA), a Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e etc.

Outra importante entidade de apoio a área é a Associação Brasileira de Educação Musical (ABEM), que congrega pesquisadores, professores e interessados no ensino, pesquisa e divulgação da Educação Musical no país. A ABEM organiza e promove eventos como o Congresso Nacional e os Congressos Regionais, promove a divulgação de publicações como a “Revista da Abem” com artigos da área e “Música na Educação Básica” com textos de apoio ao professor em sala de aula. Além disso, engaja-se na luta para que a Educação Musical esteja presente em vários contextos da sociedade, especialmente na Escola.

Conclusão

A Educação Musical no Brasil caminha em dois sentidos: um deles, diz respeito aos processos de ensinar e aprender música e as suas metodologias de ensino; o outro como campo do conhecimento, pesquisa e estudo (SOUZA, 2020).

Na escola a Educação Musical, também conhecida como musicalização, está presente principalmente na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental e é parte integrante do componente curricular de Arte. Nesse contexto, musicalizar é o processo de sensibilização sonora, em que é possibilitado a criança ampliar a sua capacidade de percepção, reflexão e uso da linguagem musical. A musicalização está além do aprender as noções de leitura e escrita musical (BRITO, 1998; FERES, 1998; MADALOZZO, 2021).

O objeto de estudo como conteúdo presente na escola é o som organizado enquanto música. O encaminhamento metodológico mais apropriado são proposição de atividades, a partir da música, em que a criança possa interagir com a arte musical, compreendendo as suas partes e o caráter simbólico que permeia a música. Pois, toda a música tem algo a nos dizer, e nos diz por meio dos sons. Se a junção de letras, sílabas formam as palavras e as frases, a junção dos sons forma a música.

A Educação Musical como área de pesquisa, como ciência, tem como objeto de interesse investigações a respeito da “relação entre pessoa(s) e música(s)” (KRAEMER, 2000; SOUZA, 2021). No Brasil, várias universidade, professores e pesquisadores, em programas de pesquisa e pós-graduação em Educação Musical tem tido um papel relevante para o desenvolvimento a área. A ABEM, Associação Brasileira de Educação Musical, tem contribuído ativamente na divulgação das pesquisas, bem como na agregação dos profissionais que se dedicam a Educação Musical.

Que esse texto possa ter contribuído para que você pudesse conhecer sobre a Educação Musical! Leia e compartilhe com seus amigos e colegas!

Link dos artigos

http://abem-submissoes.com.br/index.php/xxvcongresso/2021/paper/viewFile/763/626

https://www.ebsco.com/blogs/ebscopost/what-music-pedagogy-universality-education-sound-and-sound-education

https://seer.ufu.br/index.php/olharesetrilhas/article/view/53720.

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